A melodia está escrita na tonalidade de Fá Maior e tem um âmbito de 7amenor [Dó 3 – Si b 3], desenhando-se sobre as escalas maiores pentatónica, de blues e diatónica.
Tendo como base de acompanhamento o piano, os movimentos de tensão sugeridos pela melodia resultam de toda a configuração e progressão da harmonia. O ritmo harmónico, que sugere ora ‘tempo’ de balada (Estrofes, Interlúdio e Coda), ora de bossa nova (Refrão), também contribui para a configuração, textura, tensão, desenvolvimento e estilo da melodia.
Estrofes:
Desenhos melódicos cantados a solo sobretudo na extensão de 3ª maior ascendente sobre a Tónica sugerem escala pentatónica, efeito que é contrariado pela blue note (Láb), estreitando aquela relação lembrando atmosfera de blues por um pequeno instante.
Refrão:
Melodicamente, o jogo entre modo maior pentatónico ou de blues é aqui desenvolvido, tirando partido de outra blue note (Mib). Pequenos motivos dados pelo Wood Block em duas alturas diferenciadas, quase sugerem o som de grandes gotas dançando, enquanto o canto de um contra-tema improvisado pela voz solista se sobrepõe na sua última repetição. Em coro e em uníssono, o refrão faz o retorno do canto e da palavra mensageira entretanto suspensos e silenciados no interlúdio.
Secções instrumentais:
Interlúdios:acordes da Tónica e da Subdominante vão alternando no piano sobre Nota Pedal: primeiro sobre a Tónica, finalmente a Dominante. Sobre esta ‘cama’ ou ‘tapete’ harmónico, num desenvolvimento cíclico, arpejos são sugeridos em improviso pelo Ukulele, reforçando e completando a harmonia, em combinação com um padrão rítmico executado em ostinato pela voz, sugerindo congas, e ornamentado por uma ‘chuva’ que cai lenta pelo Pau de Chuva. Simbolizando uma atmosfera mágica, os interlúdios convidam a improvisação ou a criação/composição de outros arranjos com os mesmos ou diferentes instrumentos.
Introdução (ou Intro):começa com a mesma sequência harmónica do final de A, seguindo com o movimento harmónico e cíclico do piano sobre Nota Pedal da Tónica, que pode ser ad libitum até à 1ª estrofe.
Coda: o piano insiste em desenhar um fecho acompanhado pelo Ukulele aludindo a própria Introdução, mas usando progressão harmónica I-vi-ii-V-I.
O ritmo sendo predominantemente silábico, é cantado de forma a transmitir o grooveque o carácter do tema sugere. Tendo-se valorizado a transmissão oral, o ritmo escrito de Coculi é uma simplificação do cantado.
Todo o tema é em métrica binária, ainda que sob o ponto de vista agógico e expressivo (a relação entre arsise thesis), o seu ritmo melódico possa ser organizado em ciclos de dois ou quatro macrotempos (ou pulsações) com durações diferentes – tendo-se optado, para o descrever, respetivamente, também por razões de simplificação da leitura, pelos compassos 2/2 (Intro, Interlúdios e Estrofes) e 4/4 (Refrão).
A melodia cantada, dividindo-se em duas partes, tem forma binária [AB], respetivamente para voz solo (aluno ou professor) e coro (alunos) com o seguinte plano:
AB – A’B –A’’BB’
A, A’ e A’’ podem ser interpretados por um único ou três solistas diferentes.
O arranjo segue o seguinte desenho*:
Intro | A | Interlúdio | B | A’| Interlúdio | B |A’’ | B’B’| Coda ||
Outras possibilidades*:querendo integrar mais solistas com ‘suas’ letras, o plano do arranjo pode ser estendido, adicionando mais estrofes que se intercalarão com tantos interlúdios e refrões quanto o necessário, fechando igualmente com refrão final e Coda.
Interlúdios e improvisação*:improvisações melódicas usando por exemplo a escala pentatónica, diatónica e/ou rítmicas e percussivas podem ser realizadas sobre o acompanhamento harmónico dos interlúdios, de acordo com critérios planeados: em forma de solos instrumentais ou vocais; de diálogos; com instrumentos disponíveis de sopro, corda, pele, madeira, metal, corpo, não-convencionais ...; com ou sem arranjo; etc.
Intro(Pianol+Ukulele+Jogo Sinos)
Interlúdios (piano+Voz percutida+Ukulele+Wood Block+Voz+Pau de Chuva+Guizeira)*
A(Voz solista+Piano,+Ukulele)
B(Piano+Coro+Voz solista; Wood Block)
Coda (Piano+Ukulele)
Sobretudo pelo tipo de progressão harmónica, de voicings, de escalas, de ritmo harmónico e até mesmo de instrumentos, sua combinação e arranjo, a canção tem um sabor quase jazzístico que se funde na atmosfera da balada usada em contextos da música dita ligeira ou pop e o balanço da bossa nova. O tipo de interpretação e arranjo, que inclui improvisação, bem como a escrita usada em pauta (por cifra e sintetizando ou abreviando ao máximo a notação), aproxima o tema às formas de standard de jazz. Assim, pelo fato de nestes contextos se valorizar, como se referiu atrás, a transmissão oral sobre a escrita, bem como a autenticidade dos executantes, a interpretação de Coculi, inclusive do texto, não deve seguir de forma estrita a notação, uma vez que esta não é suficiente para fazer sentir o balanço e o groove que o caracterizam.
Sobre o título e texto:
A letra evoca Coculi que, não tendo significado, vale pelo seu desenho sonoro e fonético, fazendo-nos brincar com jogos de acentuações e terminações: cocúli, culi, culá... Para a autora, faz imaginar alegria uma vez que não é possível cantar tal palavra sem que se esboce um sorriso de orelha a orelha. Por estas razões, Coculi representa o canto do coração, que merece ser celebrado e partilhado todos os dias, anunciando dia bom e boas-vindas.
Existe uma aldeia na ilha de Santo Antão, Cabo Verde, que se chama Coculi – Kuklí no alfabeto autóctone – onde a autora se inspirou.
Trata-se de uma canção de ritualcumprindo, em analogia com a comunicação mediática, a função de ‘genérico’ de um programa ou filme televisivos. Em termos didáticos, trata-se de uma estratégia que, sob o ponto de vista musical, emocional e afetivo, estabelece o momento de abertura da sessão, consolidando a relação identitária com a aula e disciplina de música. Por outro lado, parece poder reforçar laços interpessoais e de grupo, ao constituir-se como um ritual de saudação, boas vindas e partilha, que se repetirá no início de cada aula e durante o tempo escolar que o professor considerar conveniente. A ideia de diversificar os solistas ao longo de uma ou diferentes sessões (durante o ano), permite ao professor monitorizar, de um modo pouco formal e não explícito, aspetos da aprendizagem individual, tais como: afinação, postura, expressão, compreensão melódica, harmónica e rítmica, criatividade e improvisação, memória, etc. Porque não é explícito, este momento de avaliação é naturalmente vivenciado pelo aluno sem a sensação de constrangimento e pressão, mas, antes pelo contrário, com algum conforto, prazer e bem-estar – dimensões cruciais para a motivação onde a aprendizagem se nutre e sustenta. A ideia de integrar a realização e improvisação instrumental no momento interpretativo esteve na base da construção musical do tema, nomeadamente através dos interlúdios. Sob o ponto de vista educativo, acrescenta aos pressupostos mencionados outra mais valia: a possibilidade de estender e ampliar o processo de aprendizagem a uma diversidade de dimensões, potenciando, nessa convivencialidade total e no que respeita a transferência de conhecimentos e experiência, enriquecimento e alcance. Algo que em si mesmo, musical e pedagogicamente, parece simbolizar a aproximação do palco da escola à vivência estética e holística realizada no contexto da vida, da realidade e das práticas artísticas.
Composição da música e letra: Helena Caspurro
Interpretação:
Voz solista: Joana Araújo
Coro: alunos do 4º ano de Iniciação Musical do Conservatório de Música de Braga ensaiados e dirigidos pela Joana Araújo
Piano: Helena Caspurro
Ukulele, Jogo de Sinos, Wood Block e Shaker: Brendan Hemsworth
Pau de Chuva e Guizeira: João Benjamim(12 anos) e Matilde Fonseca(11 anos)
Arranjos: Brendan Hemsworth
Gravação, Mistura e Masterização: Brendan Hemsworth
Direção musical e artística: Helena Caspurro
Gravado em casa de Helena Caspurro e nos estúdios de gravação do Conservatório de Música de Braga gentilmente cedidos por esta instituição
Apoios:
Universidade de Aveiro
INET-md
CESEM
Conservatório de Música de Braga
Todo o dia vem para a tarde
e a tarde também tem a noite
que é o dia que adormece...
Digo olá a toda a gente
E o coração que sente diz:
cocúli-coculi!
Cocúli, culi-culi, cocúli-culi-colá
Cocu-culi, culi-colá...
Toda a tarde tem o dia, tem a noite, a manhã
Tem o sol que a melancolia entorpece
Tem a chuva que é matreira ...ou não,
Tem o chão que a voz aquece
E diz...: cocúli-coculi!
Cocúli, culi-culi, cocúli-culi-colá
Cocu-culi, culi-colá...
Neste dia que faz tarde
Para te cantar também
que na noite se faz dia e acontece.
Este som, esta magia, esta voz que o canto tece
E diz...: cocúli-coculi!!!
Cocúli, culi-culi, cocúli-culi-colá
Cocu-culi, culi-colá...